terça-feira, 27 de março de 2012

Transformações urbanas


"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz".

Ferreira Gullar

Como escreve/ descreve o poeta, a História se desenrola em diferentes lugares, pois é constituída cotidianamente por todas as pessoas. Porém, alguns locais têm o privilégio de receber todos os dias um grande número de pessoas. São lugares de grande circulação, e que com o advento da modernidade passaram a ter um trânsito frenético, tão frenético a ponto de passarmos por esses lugares e simplesmente não vermos mais, ou melhor, vemos mais não olhamos. Não olhamos profundamente para nosso entorno porque temos pressa, porque a correria do mundo moderno nos torna cegos. Esta cegueira nos faz pensar muito pouco nas transformações que estão ao nosso redor. São poucos aqueles que ainda percebem que alguns lugares de sociabilidades e de memória estão sendo destruídos, alguns lentamente outros violentamente. É o que está acontecendo com a Praça Nereu Ramos. O projeto de revitalização da Praça está descaracterizando um importante local de memória de Criciúma. A retirada do Petit Pavê foi um momento de reflexão (para aqueles que ainda não foram engolidos pelo turbilhão da modernidade), pois nos questionamos: estamos participando das decisões de nosso município? Que relação temos com nossa história? E a nossa identidade? Ao olhar as máquinas “escavando” diferentes lugares da Praça e simplesmente descartando parte de nossa cultura material fica a pergunta: a quem pertence essa Criciúma?

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